Delicada Atração [***]
Direção: Hettie Macdonald
Com: Linda Henry, Glen Berry, Scott Neal, Tameka Empson, Ben Daniels, Gary Cooper, Daniel Bowers
Numa cena de Delicada Atração [Beautiful Thing, 1996] dois garotos dançam no pátio do conjunto onde moram, ao som da gravação de Cass Elliot da canção Dream A Little Dream Of Me. Alguns moradores assistem à cena com ar de choque e outros apenas se divertem, enquanto um outro par [agora feminino] adiciona-se à cena. Os olhares divididos da multidão que se forma ao redor deles contrastam com os de segurança e ternura dos dois pares, e são estas as características que dão o tom geral da dramédia romântica de estréia da diretora britânica Hettie Macdonald.
Em Thamesmead, subúrbio de Londres, o adolescente Jamie [Berry] mora com sua mãe, Sandra [Henry], e tenta lidar com os maus-tratos dos colegas de escola, dentre eles seu vizinho Ste [Neal]; já Sandra vive às favas com a vizinha Leah [Empson] (uma garota-problema, recém-expulsa de mais uma escola, que abusa do alcool e drogas e é aficionada por Cass Elliot). Certa noite ao voltar do trabalho, Sandra encontra Ste chorando no pátio e, após certificar o motivo, o acolhe em seu apartamento [que é do lado do do garoto]. Tendo que dividir a cama com Jamie, Ste acaba se abrindo sentimentalmente e, além da amizade, os dois se envolvem num romance.
Ste sofre com os abusos físicos do pai [Cooper] e do irmão traficante [Bowers], contudo, apesar das marcas do abuso fazerem parte de algumas cenas cruciais do filme, o espectador não é bombardeado com retratações gráficas dele. É aí que a direção de Hettie se revela consciente de seus propósitos e até onde deve ir. Enquanto Jamie começa a aceitar sua sexualidade, Ste ainda demonstra uma insegurança que em momento algum você questiona ou duvida, pois o filme nunca exaspera suas personagens, nem exige delas posições além das que se espera.
Isso se desenvolve melhor ainda com as ótimas performances dos dois protagonistas, em especial Scott Neal, que estampa nos olhares a confusão interna, mas o desejo de mudança, de Ste. Linda Henry é simplesmente brilhante, apresentando camadas a Sandra que a simplicidade do filme não exige, mas também não repudia; na cena em que Sandra descobre a homossexualidade do filho, Henry transborda uma emoção que eleva sua personagem a um superior patamar de identificação. E por fim a catalisadora de toda a comédia, Tameka Empson, faz de Leah uma personagem adorável, apesar dos péssimos modos dela.
Por fim, o roteiro de Jonathan Harvey [baseado em sua própria peça homônima] apresenta alguns buracos que parecem estar ali para aumentar o tempo do filme, mas, o tom leve, as ótimas performances, a trilha sonora que evoca de uma maneira sutil o universo gay, já que se trata de adolescentes comuns se descobrindo, são suficientes para tornar Delicada Atração num bom filme. Mas o fato especial de raramente cair em clichês do gênero faz com que ele seja altamente recomendável.
[Soundtrack: Evolution - Cat Power]
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