Planeta Terror (2007) [***1/2]
Dirigido por: Robert Rodriguez
Com: Rose McGowan, Freddy Rodríguez, Josh Brolin, Marley Shelton, Jeff Fahey, Michael Biehn, Bruce Willis, Naveen Andrews, Stacy Ferguson
Dirigido por: Robert Rodriguez
Com: Rose McGowan, Freddy Rodríguez, Josh Brolin, Marley Shelton, Jeff Fahey, Michael Biehn, Bruce Willis, Naveen Andrews, Stacy Ferguson
Ano passado a empreitada cinematográfica de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez me deixou de cabelos em pé! Quando soube de suas intenções em homenagear o cinema Grindhouse, coqueluche nas décadas de 1960 e 1970, acabei pegando a febre e pesquisando sobre o gênero e exemplares filmográficos.
Então vamos por partes: que diabos é Grindhouse?
Como eram chamadas as casas, geralmente drive-ins, em que se exibia exploitation films: filmes sensacionalistas com suas temáticas predominantemente sexuais, bizarras e violentas. Em outras palavras, o chamado gênero B era o mais exibido nas salas Grindhouse, que faziam sessões duplas [aham, pague um veja dois] de seus filmes estética e intelectualmente estimulantes.
E é aí que mora o segredo dos exploitations e suas subcategorias: não se pode vê-los procurando bons filmes; um filme B é bom em sua ruindade e o quanto ele eleva o nível do, agora em voga, trash, sendo assim, filmes ruins que sabem de sua condição e se aproveitam disso.
É exatamente o caso de Planeta Terror, primeiro seguimento do projeto Grindhouse da já citada dupla dinâmica. Dirigido por Rodriguez e estrelado pela deliciosa Rose McGowan e sua prótese, "Planeta" é lotado de um humor tão descarado que é praticamente impossível conter as risadas durante o filme, mesmo que essa seja sua primeira experiência grindhouse.
Quando um maníaco [Willis] do exército americano decide, por vingança pessoal, transformar a humanidade em zumbis a partir de uma cidade "insignificante" do Texas, um grupo de habitantes inexplicavelmente imunes ao gás "zumbizador" inicia a empreitada de contenção e aniquilação dos seres purulentos.
É com eles que Rodriguez homenageia os vários sub-gêneros exploitation; dentre os imunes há lesados policiais latinos, babás gêmeas e taradas, o xerife metido [Biehn], o galã proficiente em artes-marciais e armas [Freddy Rodríguez], sua namorada go-go dancer chamada Cherry Darling [McGowan] e até uma mãe lésbica [Shelton] lutando para salvar o filho do pai psicótico [Brolin] e da eminente tragédia.
Cherry é a garota presa entre o estereótipo que sua beleza carrega e a vontade de ser mais do que aparenta: a típica gostosa que quer mostrar seu lado mais profundo. O melhor da personagem é que ela nunca demonstra saber como agir para escapar do estigma até que se entrega à sua condição; o mais divertido do roteiro de Rodriguez é que ele faz esse abatimento de Cherry parecer mera "preguiça" do filme em desenvolver a personagem, afinal há tantos outros para se reparar. E McGowan está no auge de seu jogo, ciente de que Darling não deve ser levada a sério, mas representando-a com uma falsa seriedade hilariante, especialmente após ela perder a perna.
Uma outra estrela do filme é a Dr. Dakota Block - a mãe lésbica. Ela é a personagem que você imaginaria num filme "sério/de verdade": um drama ou, talvez até, um suspense. Shelton, com seus enormes e vibrantes olhos azuis, dão a Dakota um desolamento e desespero que faz com que você realmente torça por ela.
Porém, além do arsenal de canos e balas, a trupe é munida por diálogos tão medonhos que em momento algum você acredita que eles foram escritos para serem refletidos e filosofados. No prelúdio da clássica cena de sexo presente em qualquer filme de segunda categoria que se prese, Cherry Darling, a go-go dancer solta o seguinte bife*:
"Look, you were being an unbelievable dick. I was walking out on you. I was cold, I took your fucking jacket. So, if you're go on one of your psycho, obsessive, controlling rants about a fucking jacket, then fucking take it 'cause I'd rather fucking freeze than fucking hear about it one more time!"
Se isolada, essa cena em si daria uma prova dos exploitation films e sua linguagem de péssimo gosto. Um inadvertido [se não estúpido] espectador pode levar a sério o festival de erros e irracionalidades do filme e julgá-lo podre, mas todos esses aspectos fazem parte da experiência criada por Tarantino e Rodriguez. Que ser humano provido de todas as suas faculdades mentais quereria levar a sério os tais diálogos e atitudes non-sense das personagens de Rodriguez?
É nesse quesito que o tiro de, não só "Planeta", como todo o projeto Grindhouse, parece ter saído pela culatra da prótese. Ao reviver o Grindhouse, a dupla fez um fenomenal trabalho cultural, porém, o grindhouse é um gênero tão zumbi quanto os monstros fabricados pelo tal gás, e abordá-lo com a lente cult e inteligente agrada a cinéfilos e críticos, mas os consumidores dos exploitations atuais [Jogos Mortais e afins] estão muito pouco interessados em "cult".
Os americanos, ano passado, pareceram não entender a piada/homenagem e não deram o apoio [leia-se bilheteria] que o filme merecia. Isso fez a distribuidora separar "Planeta Terror" de seu irmão À Prova de Morte [dirigido por Tarantino], distribuindo-os separadamente no resto do mundo. Aqui no Brasil "Planeta" não deve ter sido exibido nem na metade das capitais, mas já se encontra em DVD, "À Prova de Morte" estréia nos cinemas brasileiros dia 21 deste mês.
*bife: fala muito longa de um só personagem.
[Soundtrack: Everything In Its Right Place - Radiohead]
[Soundtrack: Everything In Its Right Place - Radiohead]
Um comentário:
Viva o velho e bom grindhouse! Gostei dos filmes que Tarantino fez já explorando a 'mistureba' de vingança/ kung-fu/ sangue grátis de Kill Bill e gostei muito da dobradinha que fez com R. Rodriguez em Sin City. Ainda não vi este filme, mas vou procurar por ele (locadoras carentes de coisas boas aqui).
Jogos Mortais e essa perebada toda nem se compara à esse tipo de filme, onde os erros são propositais e a produção/ atuação/ roteiro são quase sempre dignos de Oscar.
E a temática 'drogas'... o que vc acha? Posso sugerir algo para vc, acho interessantíssimo.
:**
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