Quando eu era adolescente eu preferia finais trágicos regados a sangue, suor e lágrimas; eu me sentia de alma lavada e pronto para a próxima rasteira da vida. Daí a adolescência passou e, apesar de ainda gostar desse tipo de catarse, eu prefiro os finais felizes. Teve até um filme que vi há um ano que me ajudou a certificar isso, que prefiro a esperança ao fim de todas as coisas. Em outras palavras, pode-se dizer que sou um "romântico irremediável".
Mas, contra a maré da razão, finais felizes não me deixam exatamente felizes; e aí você pode me chamar de drama-queen, porque se o filme for um bom [leia-se "bem feito"] e velho Romance, aí pode ter certeza absoluta que eu fico na fossa.
Hoje revi um dos meus filmes favoritos da vida inteira: Orgulho e Preconceito [Pride & Prejudice, Reino Unido, 2005]. O primeiro longa destaque de Joe Wright não é amado por mim simplesmente porque é um romance de encher o coração, mas especialmente porque ele manteve a essência da maravilhosa obra de Jane Austen, que vai além da saga comum das casamenteiras do século XVIII, já que sua protagonista pode ser considerada uma percussora do feminismo.
Uma das coisas que mais amo no filme de Wright é o fato de ele ter dirigido Keira Knightley ao brilho. Com vários filmes porcarias antes desse, ela chegaria de repente com uma sensualidade que, passando longe das tetas apertadas pelos espartilhos de Elizabeth Shawn, estava sempre suada e com quinze centímetros de lama nas barras dos vestidos. Como Elizabeth Bennet ela não apenas conquistou os críticos e a Academia [nomeada por Melhor Atriz em 2006], como arrematou de vez meu coração que, desde então, anseia por trabalhos dignos da srta. Knightley. Ela provou, para quem quisesse enxergar, que pode ser mais genial ainda em sua segunda colaboração com Wright, Desejo e Reparação, meu filme favorito do ano passado.
A Elizabeth Bennet de Keira tem a mesma jovialidade e energia da Lizzie de Austen; claro que ambas são a mesma personagem, mas, assim como o filme de Wright transferiu com beleza a qualidade narrativa do romance clássico, Keira Knightley retratou a Elizabeth Bennet repleta da dubiedade cativante com a qual Austen nos deu: ao mesmo tempo que Lizzie trata o amor com grande sarcasmo e distância, é a coisa que ela mais deseja sentir de verdade. Isso soa simples em premissa, mas Knightley arrasa quando mantém sutil essa diferença entre o que Elizabeth sente e o que o orgulho dela a deixa mostrar. São olhares e sorrisos vívidos, mas nunca jogados ao léu e super-usados, sendo aí que deita a sutileza e beleza de sua atuação.
E é por Lizzie ter esse charme inusitado que você acompanha e torce por ela. E ao fim do filme, quando tudo é normalizado e se reinstala a paz, Lucas olha para si mesmo e vê que nem o caos começou ainda.
[Soundtrack: A Postcard To Henry Purcell - Dario Marianelli]
Um comentário:
Preciso assistir ambos. Esses dois nomes, nada a ver... deu um pontinho pra baixo no trabalho do diretor (culpa da adaptação de títulos para 'cá').
Lucas + keira... ahhhhhhhh
=D~
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