A Época da Inocência [****]
Com: Daniel Day-Lewis, Michelle Pfiffer, Wynona Ryder
É maravilhoso quando um diretor faz uma sequência de filmes diferentes e maravilhosos. Entre 1990 e 1993 Martin Scorsese fez, seguidamente, três filmes aclamados pela crítica e que residem na memória do Cinema com excitação e carinho. Foram eles: Os Bons Companheiros [Goodfellas, EUA, 1990], Cabo do Medo [Cape Fear, EUA, 1991] e o drama de costumes A Época da Inocência [The Age Of Innocence, EUA, 1993]. Recentemente, assiti aos dois últimos seguimentos.
O "Cabo do Medo" de Scorsese é remake do clássico noir de 1962, dirigido por J. Lee Thompson, com Gregory Peck e Robert Mitchum nos papéis protagonistas. Enquanto Peck faz uma pequena participação como um advogado, em sua última aparição em Cinema, quem representa o recém liberado da prisão, Max Cady, na versão de 1991 é Robert DeNiro, e sua obsessão, Sam Bowden, Nick Nolte.
Scorsese já implanta o tenso clima do suspense nos créditos de abertura: mostrando ora os olhos, ora o rosto ameaçador de Cady refletidos nas águas, acompanhados da arrepiante trilha de Elmer Bernstein. E por nenhum minuto adiante, o nível da tensão esmaece, especialmente quando a cada cena você se depara com personagens tão complexas e uma trama pela qual você não sabe qual partido tomar.
DeNiro é o paradigma do medo! Sua atuação é tão genial que a princípio o espectador não vê muito além da cara de mau e do sotaque sulista. Mas Cady, não é um simples criminoso, e só um ator como DeNiro poderia fazer-nos desenvolver uma simpatia intensa pelo artista que é um psicopata.
Juliette Lewis dá um show como Danielle Bowden, filha de Sam. Enquanto seu rosto não exatamente lembra o de uma adolescente, suas atitudes e expressões são típicas e por nenhum momento você duvida que Danielle teria 15 anos. Na cena em que Cady a encontra na escola é um duelo de tirar o fôlego entre dois atores com energias tão ofuscantes que é difícil escolher qual deles é o melhor. A sintonia é tanta que você se sente como Danielle, atraída pela normalidade de um homem que é dito perigoso.
Nolte e Jessica Lange dão também boas performances, parecendo um tanto exagerados às vezes. Mas ambos tratam suas personagens com destreza: Nolte representando um homem que tem falhas consideradas graves em seu passado, que mancham a imagem de bom moço que ele tenta manter; enquanto Lange possui uma sensualidade deslumbrante.
Quanto a Scorsese, sem comentários! Apesar de sua marca violenta se fazer presente no filme, é nos detalhes que reinam o primor de sua direção aqui. Com tomadas diretas e zoom-ins rápidos, ele aumenta e mantém o suspense em cada cena; as imagens negativadas também contribuem para tal, certificando que Scorsese, muito mais que acompanhar a tortura psicológica que Cady exerce na família Bowden, radiografa suas personagens, revelando, então, seus medos personificados na figura do espreitador.
É maravilhoso quando um diretor faz uma sequência de filmes diferentes e maravilhosos. Entre 1990 e 1993 Martin Scorsese fez, seguidamente, três filmes aclamados pela crítica e que residem na memória do Cinema com excitação e carinho. Foram eles: Os Bons Companheiros [Goodfellas, EUA, 1990], Cabo do Medo [Cape Fear, EUA, 1991] e o drama de costumes A Época da Inocência [The Age Of Innocence, EUA, 1993]. Recentemente, assiti aos dois últimos seguimentos.
O "Cabo do Medo" de Scorsese é remake do clássico noir de 1962, dirigido por J. Lee Thompson, com Gregory Peck e Robert Mitchum nos papéis protagonistas. Enquanto Peck faz uma pequena participação como um advogado, em sua última aparição em Cinema, quem representa o recém liberado da prisão, Max Cady, na versão de 1991 é Robert DeNiro, e sua obsessão, Sam Bowden, Nick Nolte.
Scorsese já implanta o tenso clima do suspense nos créditos de abertura: mostrando ora os olhos, ora o rosto ameaçador de Cady refletidos nas águas, acompanhados da arrepiante trilha de Elmer Bernstein. E por nenhum minuto adiante, o nível da tensão esmaece, especialmente quando a cada cena você se depara com personagens tão complexas e uma trama pela qual você não sabe qual partido tomar.
DeNiro é o paradigma do medo! Sua atuação é tão genial que a princípio o espectador não vê muito além da cara de mau e do sotaque sulista. Mas Cady, não é um simples criminoso, e só um ator como DeNiro poderia fazer-nos desenvolver uma simpatia intensa pelo artista que é um psicopata.
Juliette Lewis dá um show como Danielle Bowden, filha de Sam. Enquanto seu rosto não exatamente lembra o de uma adolescente, suas atitudes e expressões são típicas e por nenhum momento você duvida que Danielle teria 15 anos. Na cena em que Cady a encontra na escola é um duelo de tirar o fôlego entre dois atores com energias tão ofuscantes que é difícil escolher qual deles é o melhor. A sintonia é tanta que você se sente como Danielle, atraída pela normalidade de um homem que é dito perigoso.
Nolte e Jessica Lange dão também boas performances, parecendo um tanto exagerados às vezes. Mas ambos tratam suas personagens com destreza: Nolte representando um homem que tem falhas consideradas graves em seu passado, que mancham a imagem de bom moço que ele tenta manter; enquanto Lange possui uma sensualidade deslumbrante.
Quanto a Scorsese, sem comentários! Apesar de sua marca violenta se fazer presente no filme, é nos detalhes que reinam o primor de sua direção aqui. Com tomadas diretas e zoom-ins rápidos, ele aumenta e mantém o suspense em cada cena; as imagens negativadas também contribuem para tal, certificando que Scorsese, muito mais que acompanhar a tortura psicológica que Cady exerce na família Bowden, radiografa suas personagens, revelando, então, seus medos personificados na figura do espreitador.
Em "A Época da Inocência", apesar de o clima ser bem diferente do anterior, Martin registra mais uma vez porque é um dos maiores cineastas do comportamento humano. Num drama de época, baseado no românce homônimo de Edith Wharton, Scorsese revive a sociedade Nova Yorkina oitocentista. O interessante é que se você preferir pode apenas ver o belo filme que foi feito, especialmente a cinematografia de Michael Ballhaus [a cena de Michelle Pfiffer à beira-mar é perfeita!], mas há no filme uma agridoce crítica à hipocrisia americana, especialmente à de sua cidade natal.
Newland Archer [Day-Lewis] é um advogado promissor que está prestes a se casar com a doce socialite May Welland [Ryder]; tal casamento, além de permeado por sentimentos serenos e sóbrios, é socialmente vantajoso para ambas as famílias. Porém, as coisas mudam quando a prima de May, Madame Ellen Olenska [Pfeiffer], volta à cidade desafiando os rígidos, mas ao mesmo tempo estúpidos, costumes. Nela ele conhece e reconhece a possibilidade de viver um amor verdadeiro e ardente, que há na escondida esquina de seu ser.
O que é magistral nesse filme é o fato de que a história não muda de perspectiva, apesar da delicada narração de Joanne Woodard, vemos a trama desenrolar-se a partir das ações e mentalidade de Archer. Isso resulta na total imersão dos espectadores no filme, que assim como num livro, têm apenas o que lhes é apresentado para sentir e compreender; como o roteiro de Jay Cocks e Scorsese é próximo da perfeição, não há arestas incômodas pelo fim do filme.
Day-Lewis e Pfeiffer possuem uma afinidade interessante, mas acima de tudo, uma sensualidade que condiz com as idades não tão avançadas, mas também não tão jovens, de suas personagens. A surpresa fica por conta de Winona Ryder, geralmente subestimada, mas provando seu talento quando associado a outro talento na direção - e considerando que Scorsese é D-us, ele tira o melhor de Winona, que nos dá uma May aparentemente representante da inocência do título, mas que está longe de ser ingênua. O que é provado no final, quando sua personagem tem uma reviravolta, previsível, porém adorável por sua humanidade.
O maravilhoso ponto em comum entre dois filmes tão distintos é o fato de Scorsese ser um maravilhoso diretor de atores. Muito além da ultra-violência, dos banhos de sangue, dos claustrofóbicos suspenses, ele sabe como reunir um elenco e extrair deles performances icônicas, que perduram na mente de quem assiste a seus filmes. Isso faz deles, por mais extravagantes que sejam às vezes, próximos da realidade de cada um.
[Soundtrack: Human Behaviour - Björk]
Um comentário:
Miog!
Casamos neste ponto!
Juntamente com TAXI DRIVER, estão aí pérolas da minha vida cinematográfica! AMO Cabo do Medo, que está na minha coleção, juntamente com Taxi, e claro, o grandioso A ÉPOCA DA INOCÊNCIA. Lembro-me da primeira vez que o vi!
Agora quero comprá-lo também.
Descobrindo Daniel nos outros filmes é? Assista A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER!
Tem Juliette Binoche e Lena Olin de brinde.
não percã!
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